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Diane Bikel & Fernanda Valente. Receita abre piloto da reforma, e especialistas esperam disposição e diálogo 18 de junho de 2025

Portaria da Receita Federal institui o projeto piloto para testar sistemas da CBS.

O êxito do projeto piloto da reforma tributária referente à Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) depende do diálogo aberto entre fisco e contribuintes, especialmente no que diz respeito à disposição da Receita Federal em aprimorar questões operacionais relacionadas aos novos sistemas. A avaliação é de tributaristas, que afirmam ser necessária uma construção conjunta do texto que vai regulamentar a nova sistemática.

O pontapé inicial da fase de testes foi dado com a publicação, nesta terça-feira (17/6), da Portaria RFB 549/25 , que institui o projeto piloto da reforma tributária. O objetivo é possibilitar que as empresas façam testes nos sistemas para a validação e aprimoramento das tecnologias necessárias para implementação da CBS.

Segundo especialistas, as empresas selecionadas vão operar no novo sistema da Receita Federal e repassar feedbacks direto ao fisco. Por outro lado, a Receita também deverá indicar aos contribuintes os ajustes necessários. Neste momento, de acordo com a Receita, o piloto servirá como base para mudanças tecnológicas e não deve incluir Interfaces de Programação de Aplicações (APIs) ou volumes maiores de dados.

A ideia da Receita é estimular a preparação antecipada dos contribuintes e setores econômicos a tempo de adotar medidas para a implementação da CBS. A reforma estabelece um período de transição a partir de 2026, quando a CBS passa a valer sem gerar cobrança. Esse processo se estende até 2033, quando os novos tributos estarão completamente implementados e o PIS, Cofins, ICMS, ISS totalmente extintos. A reforma também traz a previsão de fim do IPI, porém parcialmente.

Cerca de 500 empresas participarão da iniciativa, segundo estimativa da Receita . Para isso, os contribuintes precisam atender a pelo menos um dos critérios a seguir: ter relacionamento prévio com a Receita Federal em programas como o Confia ou homologações do Sistema Público de Escrituração Digital-SPED; ou ter sido indicada pelo Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), por entidades representativas do setor de tecnologia da informação ou de segmento econômico.

O processo de adesão será por etapas, a começar pelo envio de carta convite da Receita Federal para as empresas selecionadas previamente, seguido da assinatura digital de termo de adesão e validação. A relação das empresas participantes deverá ser publicada pela Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil no Diário Oficial da União. A portaria não traz, no entanto, as datas do cronograma.

Transparência e previsibilidade

Advogados consultados pelo JOTA afirmam que a medida é positiva e sinaliza uma postura transparente da fiscalização ao prever um ambiente de testes colaborativos, sem efeitos jurídicos vinculantes. De acordo com o tributarista Luiz Peroba, do Pinheiro Neto Advogados, a maior preocupação das empresas está na adaptação dos sistemas para garantir a validação das notas fiscais e a realização de testes operacionais antes da entrada em vigor do novo modelo.

Entre os diversos pontos da reforma, ele destaca que a emissão das notas é o mais sensível para os contribuintes, e que a portaria traz maior segurança ao mercado ao viabilizar a realização desses testes com antecedência.

O principal ganho do projeto, conforme Cintia Meyer, sócia do Martinelli Advogados, é o de trazer clareza a um cenário, hoje, que carece de referências. Segundo ela, tanto a Receita quanto as empresas não têm uma visão definida de como o novo modelo vai operar, e todos ainda seguem a lógica atual, baseada em obrigações acessórias e no envio posterior de informações. O piloto, explica, será fundamental para testar o novo formato, que deve ser online e pré-preenchido, e verificar se ele é viável na prática.

Para a tributarista Francine Fachinello, mestranda em direito tributário na PUC-SP, trata-se de um primeiro passo de uma mudança na cultura fiscal. “Se bem conduzido, o piloto pode ser um marco no caminho para uma governança tributária mais eficiente, previsível e cooperativa”, disse.

Da mesma forma, os advogados Anete Mair, do escritório Gaia, Silva, Gaede Advogados, e Diego Diniz Ribeiro, do Daniel & Diniz Advocacia Tributária, entendem que a medida é importante para aprimorar os sistemas tecnológicos relacionados à CBS antes da implementação. Para eles, o piloto servirá para corrigir eventuais erros futuros.

O advogado Maurício Barros, sócio da área tributária do Cescon Barrieu, diz que o processo colaborativo para as duas partes (fisco e contribuinte) precisa ser positivo. Do lado dos contribuintes, é esperada ajuda para que a Receita torne o sistema o mais amigável possível, “sempre preservando o direito dos contribuintes, principalmente com relação à créditos”. Do lado do fisco, espera-se que o sistema seja entregue em um tempo razoável.

Cronograma da Receita

Durante o evento Diálogos Tributários no JOTA, o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, afirmou que o cronograma da reforma prevê a finalização, até esse mês, da regulamentação da Lei Complementar 214/25, decorrente do PLP 68/24. Uma vez concluída a proposta, disse, o órgão deve compartilhá-la com os entes subnacionais para então abrir uma audiência pública, em setembro. A finalização do texto está prevista para outubro.

Por: Diane Bikel, Fernanda Valente.

Fonte: JOTA.